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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Jerônimo e Tiririca

         As pesquisas anunciam que Tiririca deve ser o candidato a deputado federal mais votado em São Paulo. Entendo perfeitamente o que leva um Tiririca a se candidatar a deputado federal. O que não entendo é o que leva um eleitor a votar em Tiririca. Já fui adepto do voto nulo, e isso num tempo em que votar era coisa rara. Lembro-me da primeira eleição popular durante a ditadura. Eu deveria escolher um candidato para fazer parte da Câmara dos Vereadores de Juiz de Fora. Não acreditava na eleição. Para quem chegou agora, estou falando de um tempo em que a gente votava em cédulas. Para que pareça mais distante ainda, era um tempo em que a gente escrevia na cédula o nome do candidato. Quer dizer, para presidente, governador, acho que até mesmo para senador, bastava preencher uns quadradinhos. Mas, como a gente não votava para presidente, governador ou senador, tinha mesmo é que escrever o nome do vereador ou dos deputados. Cravei na cédula: Jerônimo Coragem.
         Jerônimo Coragem não era um candidato de verdade. Era um candidato de ficção, interpretado por Claudio Cavalcanti na novela “Irmãos Coragem”, de Janete Clair. É meio difícil imaginar uma questão política
envolvendo uma novela de Janete Clair. Logo ela que sempre foi associada a trabalhos alienantes. Mas acho que, durante a ditadura, a televisão não produziu trabalhos mais engajados do que as novelas de
Janete. Dizia-se que Sucupira, a cidade que Dias Gomes inventou em “O bem amado”, era um microcosmo do Brasil. Mas, antes de Sucupira, havia Coroado, a cidade dos Irmãos Coragem. Na ficção, Jerônimo candidatava-se a prefeito em eleições, que, como acontecia com as eleições de verdade no Brasil, eram só para inglês ver. Jerônimo Coragem foi meu primeiro e único voto nulo. Um voto de protesto. É impossível fazer um voto de protesto hoje em dia. Com as eleições eletrônicas, não há mais espaço para Jerônimo Coragem. Ficou pior. Sobrou espaço para Tiririca. O protesto é em Tiririca. Só que Jerônimo Coragem nunca teria uma cadeira na Câmara Federal. Tiririca vai ter.
        Há quem justifique a candidatura de Tiririca dizendo que ela é representativa de parcela da população. Bobagem. Se fosse assim, teríamos que ter também candidatos ladrões, candidatos corruptos... bem, nós
temos candidatos ladrões, candidatos assassinos e candidatos corruptos, mas não escancaradamente. Eles se disfarçam, e quem vota neles não sabe que são ladrões ou corruptos. Em Tiririca, vota-se sabendo
quem ele é. O eleitor escolhe um palhaço para eleger acreditando que está sendo esperto. No fundo, está sendo mais palhaço que o candidato. Na campanha, Tiririca usa o slogan “Vote em Tiririca, pior do que está
não fica”. Ledo engano. As pesquisas estão mostrando que pode ficar bem pior.


Artur Xexéu (coluna da revista O Globo do dia 19/09/2010)


2 comentários:

  1. Gostei no texto de Artur,
    mas tenho a reflexão propria sobre o caso.
    Acredito que a primeira coisa que passava na cabeça do eleitor é: Ele não vai ganhar mesmo!
    E por isso tanto votos.
    Bem parecido com o que eu acredito ser no caso Marina Silva, as pessoas no inicio acreditavam que ela nao iria nem para um seg turno, e boa parte desses votos são de pessoas que tinha certeza que nao votariam em Dilma por tudo seu historico e tb nao votariam em Serra, talvez por medo de um nova era FHC. O que eu to querendo dizer é que esse eleição pra mim é meio que jogo de empurra, meio que vamos brincar com a sorte.
    A Marina pra mim não estaria pronta para uma presidencia e o Tiririca, uma piado propriamente dita!

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  2. É mi pinheiro,essa corrida eleitoral ainda vai dar pano pra manga,e muitas crônicas...
    Obrigado pela sua visita,e volte sempre!!!

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